“Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28)
Publicado em 13/02/2024
A palavra cinza, que provém do latim “cinis”, representa o produto da combustão de algo pelo fogo. Esta adotou desde muito cedo um sentido simbólico de morte, expiração, mas também de humildade e penitência. A cinza, como sinal de humildade, recorda ao cristão a sua origem e o seu fim: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” (Gn 2,7); “até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19).
A intenção desse sacramental é nos levar ao arrependimento dos pecados, é fazer-nos lembrar que não podemos nos apegar a esta vida, achando que a felicidade plena possa ser construída aqui. É uma ilusão perigosa, pois a nossa morada definitiva é o céu. Deus nos permite passar por este vale de lágrimas que é a terra, para que tenhamos a feliz esperança de um dia vivermos com Ele eternamente, sendo dias duradouros, sem fim, sem que tenhamos que renovar nossas vidas dia a dia, sem termos que viver a transitoriedade da humanidade corrompida pelo pecado original.
Neste tempo litúrgico da Quaresma, que se inicia hoje, a Santa Igreja sabiamente ensina aos seus filhos e filhas, a prática de ações que ajudarão nossa alma aperfeiçoar em santidade, para o caminho seguro rumo a vida eterna. A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, penitência, conversão espiritual; tempo para preparar o mistério Pascal. A oração, o jejum e a esmola são ações que ficarão gravadas para sempre em nós, mas principalmente no conhecimento de Deus, que enxerga a cada ato que fazemos e guarda em Seu coração misericordioso e justo, por amor à nossa passagem, ansiando por nossa morada junto à Ele, onde “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28).
Por ser um dia penitencial, o jejum e abstinência são obrigatórios durante a Quarta-feira de Cinzas, como também na Sexta-feira Santa. A cinza é um símbolo. Sua função está descrita em um importante documento da Igreja, mais precisamente no artigo 125 do Diretório sobre a piedade popular e a liturgia: “O começo dos quarenta dias de penitência, no Rito romano, caracteriza-se pelo austero símbolo das Cinzas, que caracteriza a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Próprio dos antigos ritos nos quais os pecadores convertidos se submetiam à penitência canônica, o gesto de cobrir-se com cinza tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que precisa ser redimida pela misericórdia de Deus. Este não era um gesto puramente exterior, a Igreja o conservou como sinal da atitude do coração penitente que cada batizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal. Devem ajudar aos fiéis, que vão receber as Cinzas, para que aprendam o significado interior que este gesto tem, que abre a cada pessoa a conversão e ao esforço da renovação pascal”.
Deus nunca desiste de nós, mesmo quando o amor parece ter esfriado em nossos corações, Seu amor por nós sempre se renova, dando-nos oportunidade de recomeçar. A Quaresma é este tempo propício para nossos corações se reinflamarem pelas Coisas do Alto, buscar conhecimentos mais profundos sobre O Deus Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo que sofreu tanto e morreu por amor a cada um de nós. Que o Espírito Santo e a Santíssima Virgem das Dores nos ajude neste tempo quaresmal, que nossa busca pela santidade seja verdadeira, rendendo frutos, que as práticas exercidas nos façam viver intensamente a Santa Páscoa, que é o real sentido de nossa existência.
Por: Hérica Andrade,
Consagrada da Comunidade Cenáculo.